Espírito Santo inova no sistema de informações turísticas com o uso de QR Code
Por João Zuccaratto*
O Estado do Espírito Santo nasceu na Prainha, na Cidade de Vila Velha. Seu Sítio Histórico guarda patrimônios culturais e religiosos, mas sofreu descaracterizações. Em vias de ser reformado, estudantes de Arquitetura e Urbanismo usaram concurso para apresentar sugestões.
Sítio Histórico da Prainha: Capitania do Espírito Santo
O capitão-donatário Vasco Fernandes Coutinho, depois de cruzar o Oceano Atlântico de Nordeste a Sudoeste, a bordo da caravela Glória, escolheu pequena enseada para aportar e assumir a capitania hereditária doada a ele pela Coroa Portuguesa nas terras do Brasil.
Era o dia 23 de maio de 1535, um Domingo de Pentecostes, uma das celebrações mais importantes do calendário cristão — no caso, da Religião Católica: comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo, sua mãe Maria e outros seguidores.
Por isso, não teve dúvidas, batizando seus domínios como Capitania do Espírito Santo. Impedido de descer à terra pelos nativos armados de arcos, flechas e tacapes, usou tiros de canhão para assustá-los e espantá-los para o interior, coberto por Mata de Restinga.
Os índios chamavam a pequena faixa de areia à frente da embarcação de piratininga — significando “peixe seco” ou “local de secar peixe”. Para os colonizadores, passou a ser a Praia de Piratininga. Entretanto, por ser bem diminuta, ganhou o apelido de Prainha.

Sítio Histórico da Prainha: berço da Cidade de Vila Velha
Passados quase 500 anos, o entorno da Prainha tornou-se dos mais importantes sítios históricos da terra capixaba. Além de, ali, ter nascido a atual Cidade de Vila Velha, sedia patrimônios como o Convento da Penha e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Ao longo dos séculos, toda a área sofreu descaracterizações em relação às suas heranças legadas pela Natureza. O equilíbrio lá existente manteve-se por milênios, até chegada do homem branco. Daí por diante, tornou-se refém de uma desordenada ocupação urbana.
Até a década de 1940, a área do Sítio Histórico da Prainha era tomada por amontoado de casas insalubres — na sua enorme maioria, cortiços —, dispostas irregularmente, em meio a um emaranhado de becos, passagens, ruas estreitas, ruelas, servidões, vielas…
Assemelhava-se ao Pelourinho, da Cidade de Salvador, a capital do Estado da Bahia, só com tamanho menor e construído em terreno plano. O conjunto, além de um visual feio, mostrava-se totalmente insalubre, sem distribuição de água tratada e coleta de esgotos.

Sítio Histórico da Prainha: reforma no estilo Bota-Abaixo
Isso mudou radicalmente com reforma realizada pela administração da Cidade de Vila Velha, no início do século XX, anos 1900 — semelhante à do Bota-Abaixo, do prefeito Francisco Franco Pereira Passos, no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, capital federal.
Muitas construções demolidas permitiram abrir, ampliar e interligar vias de circulação, dando ao bairro a conformação atual, além da instalação de redes de serviços públicos. Herança ainda daqueles tempos desorganizados é um grande número de ruas sem saída.
Outra mudança significativa aconteceu no início dos anos 1970: a dragagem do canal de acesso aos portos gerou um aterro. Avançou sobre o mar, soterrou a orla original e criou a área na qual foi instalado o Parque da Prainha, projeto bastante inovador para a época.

Sítio Histórico da Prainha: desafio a estudantes de Arquitetura
Passados 50 anos, parte da nova orla, no extremo Leste, está ocupada por construções, bloqueando a visão da bela paisagem dali descortinada. O conjunto exibe equipamentos, estruturas e instalações sucateadas, e a Prefeitura vai reformar e recuperar todo o local.
Visando enriquecer esse processo, a Seccional Estado do Espírito Santo do Instituto dos Arquitetos do Brasil — IAB-ES lançou concurso voltado a estudantes de Arquitetura e Urbanismo, desafiando-os a propor ideias para melhorias no Sítio Histórico da Prainha.
O certame foi encarado por sete grupos de alunos — totalizando 31 estudantes —, dos cursos da Universidade Federal do Estado do Espírito Santo — Ufes e da Universidade de Vila Velha — UVV. E contaram com apoio de orientadores indicados pelo IAB-ES.

Sítio Histórico da Prainha: visibilidade para ideias propostas
Por valorizar iniciativas como essas, fiquei interessado em divulgar as criações, para contribuir com a viabilização de ações semelhantes em outras partes do País. Consegui cinco trabalhos — com intenção de publicar todos eles, sem referências ao vencedor.
Um deles, sem imagens e informações suficientes para gerar matéria, teve de ser excluí-lo. O memorial descritivo apresenta-se muito sucinto e as poucas pranchas delineando as ideias carregadas de textos. Atenção: não expresso aqui qualquer crítica aos autores.
Já foram publicados dois, restando outros dois — o terceiro corresponde a esse post —, pedindo desculpas pela demora: meus compromissos são muitos e, como o processo de produção é demorado, faço esforço para administrar o tempo da melhor forma possível.
O primeiro foi produzido por Bruna da Silva Santos, Luana Marinho dos Santos, Natiele Dalbó, Patrícia Scarpat Thompson Palhano e Wesley Milke, todos UVV. Denominado Projeto Canela-Verde, surgiu sob a orientação da profissional Simone Neiva Gonçalves.
Canela-verde é a identificação do nascido no Município de Vila Velha. O termo surgiu das algas coladas às pernas dos primeiros a desembarcar na Prainha. Cores, detalhes e formas da planta marinha decoram pisos de calçadas, parque e praças do Sítio Histórico.

Sítio Histórico da Prainha: visibilidade para ideias propostas
O segundo foi o projeto do Studio Urbano, composto por Brenda Contarato, Chrislayne Gomes dos Santos, Myrella Christina Felicio dos Santos Merscher Christ e Rachel Lounge dos Santos Martins, também todos UVV, orientação Simone Neiva Gonçalves.
Agora, é o de Aline Pereira Chisté, Bianca Rocha Afonso, Gabriel Freitas Rodrigues, Iolanda Possamai da Luz, Karina Moraes Coelho Pizoni de Souza e Suellen Amorim Bellucio — novamente todos UVV, e com orientação de Luiz Marcello Gomes Ribeiro.
Estudando aquela área urbana, definiram premissas básicas para o desenvolvimento do projeto: a Prainha e seu entorno são caracterizados por intensa presença de natureza, forte densidade histórica e misto de estilos arquiteturas projetadas em épocas distintas.

Sítio Histórico da Prainha: fortalecer a memória ali existente
Estabelecendo como principal finalidade do trabalho valorizar todo o local fortalecendo a memória cultural ali presente, com supressão de construções, realocação de prédios e requalificação da circulação, reduzindo a de automóveis, priorizando os seres humanos.
Isso levou à sugestão de implantação de rotatória em cruzamento das ruas principais e elevação do piso de algumas vias, criando, assim, possibilidades de melhor visualização do entorno histórico, mesmo para aqueles circulando a bordo dos veículos automotivos.
Para os pisos dos caminhos de circulação de carros, sugerem paralelepípedos; para os de pedestres, placas de concreto, ambos, soluções de acordo com a busca por equilíbrio prevista para toda a área — além de primar pela facilidade de instalação e conservação.

Sítio Histórico da Prainha: reabilitação dos ícones locais
Propõem, ainda, reabilitação de ícones locais, como Casa Amarela, Casa da Memória e Museu Homero Massena, além de várias edificações de uso misto espalhadas por todo o bairro. O objetivo é criar maior coerência entre a história do bairro e suas edificações.
Prédios ocupando, praticamente, toda a orla junto à faixa de areia da Prainha, cortando a visão para o canal de acesso ao complexo portuário da Cidade de Vitória e da Cidade de Vila Velha, serão demolidos, permitindo integrar o parque ao espelho de água do mar.
Partindo da premissa da estrutura institucional do Município de Vila Velha estar sendo deslocada sentido Sul — exemplo: proximidades da recém-inaugurada Rodovia Leste-Oeste —, fazem a proposta de mudança da Câmara de Vereadores para aquele entorno.
A estrutura hoje existente será requalifica e reaproveitada em acordo com parâmetros em acordo com as heranças culturais e históricas da Prainha — deixando esta edificação dentro do gabarito definido para a área da Prainha, sugerem instalar ali um restaurante.

Sítio Histórico da Prainha: remoção de edificações irregulares
Situação igual se dá com o galpão da fábrica de gelo, atividade em desacordo com atual a legislação local, e a edificação abrigando o Fórum. Com seu deslocamento para outro endereço, o espaço reunirá biblioteca, cafeteria, galeria de arte e agência dos Correios.
A praça, atualmente segmentada em espaços praticamente autônomos, terá toda a sua área unificada, permitindo vistas devassadas, principalmente, para os marcos históricos ali já estabelecidos, como o Convento da Penha e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Nas imagens a seguir, um resumo das ideias propostas pelo grupo para a recuperação, reforma e requalificação do Sítio Histórico da Prainha, área urbana com, também, um inigualável acervo de residências erguidas durante o início do século XX, anos 1900.

Sítio Histórico da Prainha: imagens das ideias propostas












*João Zuccaratto é Jornalista especializado em turismo sediado na cidade de Vitória – ES / (27) 9-8112-6920