Espírito Santo inova no sistema de informações turísticas com o uso de QR Code
Rachel Martins é jornalista. Semanalmente escreve sobre turismo em seus diferentes aspectos.
A partir de agora, descendentes de italianos no Espírito Santo contam com um Sportello Consolare (Escritória Consular). Trata-se de uma extensão do Consulado Geral. É uma espécie de cartório onde é possível, por exemplo, confeccionar os passaportes, entre outros serviços como autenticações e procurações. Mas, por enquanto, os processos de dupla-cidadania continuam sendo realizados somente pelo Consulado Italiano do Rio de Janeiro.
A coluna entrevistou o servidor público estadual e presidente do Conselho Consultivo da Associação Federativa Comunità Italiana do Espírito Santo, Cilmar Cesconetto Franceschetto, para falar sobre o Sportello, que é a primeira etapa para a definitiva instalação da Agenzia Consolare, de primeira categoria, no Estado, que, aí sim, funcionará como um consulado, totalmente independente do Rio de Janeiro, subordinada à Embaixada da Itália em Brasília.

Confira a entrevista:
– O fato de 70% dos capixabas serem descendentes de italianos foi o principal motivo para implantar uma sede consular em Vitória?
Sem dúvidas. O Espírito Santo é considerado o Estado do Brasil com o maior percentual de descendentes de italianos em proporção à população, gerando uma forte demanda pelos serviços no Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro. O Consulado Honorário da Itália em Vitória tinha muitas limitações para atender aos ítalo-capixabas. Um outro fator importante foi o desenho histórico: o Espírito Santo é considerado, oficialmente, o berço da imigração italiana no Brasil e Santa Teresa, também oficialmente, a primeira cidade italiana do país. Mas o fator determinante foi a mobilização da comunidade ítalo-capixaba que há quatro décadas vem lutando por uma representação consular italiana independente do Consulado do Rio de Janeiro, onde é realizada a maioria dos serviços, a exemplo dos processos de dupla-cidadania.

– Dos 70% de descendentes italianos no Espírito Santo, quantos, atualmente, têm cidadania italiana?
De acordo com informações do Consulado Geral, são 32 mil os capixabas residentes no Estado que possuem a dupla-cidadania. Aí também estão inseridos os italianos natos. Porém, muitos ítalo-capixabas conseguiram o reconhecimento e emigraram para outros países ou moram em outros Estados.
– Quais os serviços que serão prestados no local?
O que está em funcionamento agora é o Sportello Consolare (Escritória Consular) que, na verdade, é uma extensão do Consulado Geral. É como se fosse um cartório. Conta com dois servidores, em salas apropriadas, que estão realizando os atendimentos, prioritariamente quanto à confecção dos passaportes. Por conta da pandemia, o fornecimento dos passaportes está muito atrasado. Agora estão sendo atendidos os que estavam agendados para março. Também são realizados no local outros serviços, como autenticações, procurações… Mas os processos de dupla-cidadania, por enquanto, somente podem ser realizados no Consulado Italiano do Rio de Janeiro.
– Com o funcionamento dessa sede consular em Vitória, os capixabas descendentes não precisarão mais se deslocar ao Rio de Janeiro para emitir ou dar entrada em documentos?
O Sportello é a primeira etapa para a definitiva instalação da Agenzia Consolare, de primeira categoria. Digamos que é uma etapa de transição, preparação para a Agenzia, ainda sem data definida para ser instalada. Esta, funcionará como um consulado, totalmente independente do Rio de Janeiro, subordinada à Embaixada da Itália em Brasília. Na Agenzia poderão ser realizados os mesmos serviços de um consulado de carreira, incluindo-se os processos para o reconhecimento da dupla-cidadania. O responsável pela instituição será um Agente Consular com o apoio de outros servidores contratados pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália.
– O objetivo de trazer a sede consular para o Espírito Santo também tem pretensões econômicas? Por exemplo, se algumas empresas italianas tiverem interesse em investir no Estado, os trâmites burocráticos ficarão mais fáceis?
Este é um ponto muito importante. Falamos muito quanto ao atendimento aos descendentes, por conta da crescente demanda pela dupla-cidadania. Porém, a Agenzia será uma representação diplomática italiana no Estado, que já tem um relativo intercâmbio econômico com a Itália. Com o funcionamento da Agenzia, essas relações se tornarão ainda mais estreitas e se abrirá um leque de possibilidades para os italianos e capixabas, em geral, nas transações comerciais. De fato, a nova estrutura consular traz grandes oportunidades de negócios para o Espírito Santo. É uma grande conquista!
– A sede consular em Vitória também terá como papel preservar a cultura italiana no Estado? Será realizado um trabalho nesse sentido?
As representações consulares são entes voltados às relações diplomáticas, prioritariamente no intercâmbio econômico-comercial entre os países. As atividades culturais ficam a cargo dos Institutos Italianos de Cultura, localizados próximos ou no mesmo imóvel dos consulados, mas com atuação independente, mais voltados à difusão cultural da Itália, incluindo-se o estudo da língua. No Espírito Santo temos a ALCIES (Associação de Língua e Cultura Italiana do Espírito Santo) com atuação de 25 anos que realiza um excelente trabalho. A difusão e preservação da cultura de tradição dos imigrantes no Estado é realizada pelas associações, grupos folclóricos, distribuídos pelos diversos municípios do Estado, e têm um papel fundamental nesse sentido. As representações diplomáticas podem atuar no apoio aos projetos, mas não obrigatoriamente na sua execução de atividades culturais.
– Na sua visão é preciso investir mais para preservar a cultura italiana no Estado?
Embora de grande relevância, não temos ainda uma linha de crédito para tais atividades. A carência maior é no sentido da preservação do patrimônio arquitetônico, documental e itens de caráter museológico. Muito se perdeu e está se perdendo. É necessária uma conscientização dos descendentes quanto à importância da preservação e ao mesmo tempo recursos financeiros de apoio à preservação desse patrimônio cultural. Mas temos ainda os grupos de danças, os musicais, os corais que carecem de apoio, seja na capacitação, seja na aquisição de vestimentas ou de equipamentos. Esperamos que, com a efetivação da nova representação consular, seja aberta uma possibilidade de patrocínio por parte da Itália ou da União Europeia, em parceria com o Estado e com os municípios, para que possamos manter preservada essa riqueza histórica para as futuras gerações.
Serviço:
Foto: festa imigrante italiano – SETUR.
*As notas podem ser enviadas para o zap (27) 99694-9812 ou pelo e-mail: rachel.rmartins@gmail.com